segunda-feira, 2 de junho de 2008

Baby Cool na Revista do Correio

O Filho a Tiracolo

Moda do sling renasce nos ombros das celebridades e ganha força entre mamães e papais comuns. Saiba quais os benefícios para o principal interessado nessa história: os bebês


Maria Fernanda Seixas
Especial para o Correio

Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
Adeptos do sling, Aline e Felipe, pais de Dan, 1 ano, e Enzzo, 5 meses, enumeram as vantagens: menos cólicas e menos choro

Você teria coragem de pendurar um bebê em um pano amarrado entre sua cintura e seu ombro, e andar com ele, livremente, por aí? O que já era tradição entre tribos indígenas brasileiras, peruanas, bolivianas e mulheres africanas agora é moda entre celebridades como Brad Pitt, Angelina Jolie, Cindy Crawford, Julia Roberts, Sheryl Crow, Kate Hudson e Courtney Cox.

A modinha, desta vez, tem até explicação. A prática do babywear (vestir-se de bebê), com faixas de pano chamadas de sling ou kepinas, proporciona inúmeras vantagens a bebês e pais, dizem adeptos e especialistas.

A bióloga Aline Ramos e o marido Felipe Marangon fazem uso do sling desde que o primeiro filho, Dan — hoje com um ano e meio — tinha apenas três meses de vida. "Uma amiga me contou sobre esses panos e eu na mesma hora já me apaixonei pela idéia. Lembro que a primeira vez que coloquei Dan dentro do sling ele se sentiu tão confortável que dormiu em segundos", conta. Além de usar o acessório para carregar o filho de um lado para outro, Aline conta que a técnica é um antídoto contra as cólicas do filho. "Tanto o Dan quanto Enzzo (segundo filho do casal, hoje com 5 meses) sempre melhoram ao descansarem no sling. Talvez a sensação lembre um pouco a experiência intra-uterina", sugere Aline.

Segundo o pediatra e guru dos pais americanos Bob Sears, responsável pelos livros de puericultura mais vendidos do mundo, o babywear significa mudar a percepção de como os bebês realmente são. "Os pais, muitas vezes, visualizam bebês deitados quietos no berço, passíveis, observando móbiles e carregados apenas para serem alimentados ou para uma brincadeira rápida. O babywear muda essa concepção", descreve o pediatra em seu blog.

As vantagens principais do sling são muitas e abrangem, como acredita Aline Ramos e confirma o pediatra americano, confortos para dores e momentos de choro. "O bebê acaba por chorar menos, pois sente-se acalentado e protegido por mais tempo", elogia Sears.




Fato consumado
Em 1986, tais benefícios puderam ser comprovados quando um time de pediatras da Universidade de Montreal, no Canadá, publicou um estudo com 99 pares de mãe e filho divididos em dois grupos. O primeiro foi encorajado a carregar o bebê por três horas a mais do que estavam acostumados. O outro não. Depois de seis semanas os bebês do primeiro grupo choravam e reclamavam 43% menos que os do segundo grupo.

Ainda de acordo com Sears, antropólogos que viajaram o mundo pesquisando mães que carregam filhos em panos concluíram que os filhos ficam muito mais calmos. "Quando na cultura ocidental mensuramos o choro de um bebê durante um dia em horas, nas culturas que praticam o babywear, mensuramos em minutos. Achamos natural que o bebê chore tanto. Mas em outras culturas, isso não é nada normal", avaliou o pediatra. "Para a saúde emocional, intelectual a fisiológica funcionar otimamente, a presença contínua da mãe, como quando o sling é usado, é uma influêcia necessária", diz Sears. Outra vantagem apontada por pediatras canadenses é que os bebês que são carregados por mais tempo aprendem mais, pois transitam por diversos ambientes, ficam em estado de alerta e observam mais as feições da mãe ou do mundo ao redor, dependendo da posição.

O Brasil na onda
No Brasil, a moda do babywear chega tímida, mas já conquistou muitas mães. A curitibana Halini do Prado, mãe de Lara, 5 meses, só tomou conhecimento da prática quando teve seu segundo filho. "O prazer de ficar juntinho com o filho da gente e não sofrer com dores nos braços é indescritível. Aquele mito que colo deixa criança mal acostumada caiu por terra", avalia.

Para a brasiliense Aline Ramos, o preconceito que algumas mães adeptas do babywear sofrem é normal, pois os slings ainda não são tão comuns no país. Perguntas do tipo "O bebê não vai cair?", ou "Não está esmagando a criança?", não a irritam. "Não tem como sair na rua e passar despercebida com o filho no sling", brinca Aline. "Todas as vezes que eu saio com a Lara no sling sou abordada no mínimo por três pessoas", diz Halini do Prado. Foi graças a tantos interessados que Halini decidiu fabricar seus próprios slings e vender para familiares e amigos. "As pessoas estão se interessando bastante e já vendo alguns para outras cidades. Mas é bom alertar as mães para ter cuidado na hora de comprar um. O sling de qualidade deve oferecer segurança", diz.

Os mais usados e comercializados são os ring-slings, que têm argolas próprias que permitem regular a altura e possibilita diversas posições do bebê. Já o pouch-sling, muito usado nos Estados Unidos e Europa, é uma faixa inteira de pano costurada, e é feito por encomenda, de acordo com o tamanho do adulto que o utilizará. Outro tipo de babywear é a kepina, que não traz costuras. É um pano quadrado, dobrado na transversal em forma de leque. Suas pontas são amarradas no ombro e a terceira ponta sustenta o bebê ao ser encaixada entre a barriga da mãe e do filho.


TEST-DRIVE

A convite da Revista do Correio, a diplomata Viviane Balbino topou experimentar, pela primeira vez, dois tipos de sling e uma kepina, com seu filho Nuno Reifschneider, de 9 meses, e contar como foi a experiência. Segundo Viviane, todos os modelos são válidos, pois cansam menos do que carregar o bebê diretamente no braço. Mas o modelo pouch foi o preferido.



1. KEPINA

"A Kepina é mais complicada de aprender a usar. Exige que o nó seja ajustado conforme a altura, e a ponta do pano deve se encaixar entre as pernas do bebê para segurá-lo. Achei um pouco confuso e o nó me parece incômodo."

2. POUCH SLING
"Achei que este é o modelo mais bonito e prático. Foi o que o Nuno pareceu se adaptar melhor. Ele ficou bem encaixadinho e me senti segura. Simplesmente o sentei no pano e não precisei ajustar nada. Não teve mistério."

3. RING-SLING
"Este modelo é bom por ser ajustável. Posso dividir o sling com o pai, por exemplo. O excesso de pano sobrando não me parecia tão legal, até que vi que na ponta vem um bolsão costurado que pode ser bem prático para carregar coisinhas durante os passeios."


Correio Braziliense, Revista do Correio, 11/05/2008.




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